top of page

Exposição Patricia Carparelli

Flume

A vida de um rio não é marcada pelo seu nascimento e morte, transformações constantes entre caminhos, lugares e tamanhos fazem com que sua existência se resuma em transição. Tudo que existe entre a foz e a nascente faz parte de um universo entre momentos, nem seu começo nem seu fim cumprem seu papel enquanto delimitadores, demarcam um espaço-tempo entre o primeiro contato da água com a superfície e seu deságue em um todo maior, na imensidão.

Flume de Patrícia Carparelli reflete caminhos - assim como a água está sujeita aos acidentes, incidentes e obstáculos, os trabalhos aqui também se submetem a tais intempéries, transparecendo o anseio de atingir sintonia com a corrente do rio, correndo juntos nas suas densidades, formas, luzes e medidas.

Como continuação de sua pesquisa sobre fluidos, transparências e cintilâncias, Patrícia, aqui, estabelece diálogo com as águas continentais, os caminhos abertos pelos afluxos derramam-se por meio de pinturas, aquarelas, vídeos e objetos fazendo com que o nome da mostra se concretize enquanto forma.

Entre aproximações e afastamentos o olhar toca o brilho do sol na gota d'água ao mesmo tempo que tem visão panorâmica do percurso total do rio. Cria-se um ritmo e a exposição resulta em um convite para acompanhar a correnteza, sem que se desvie a atenção dos detalhes do percurso.

Tal como a água desliza sobre a terra, os trabalhos se entregam à deriva, sendo o curso do rio um processo de introspecção e compreensão de sua própria gestualidade.

Ao mesmo tempo que se submete, integra, criando mais uma vez um momento entre onde a experiência reflete a transformação, seja na transição de cores ou na ideia de ciclo e continuidade inserida nas formas.

O detalhamento desse processo é expandido e transformado sinestesicamente em matéria, a representação se faz entre a figuração e a abstração e o que há de sensorial se forma a partir da memória coletiva de rio, guiada pela obra enquanto mediadora do acesso a tal inconsciente, individualizando-o enquanto experiência.

Flume é o curso do rio, é eterna passagem entre formas, é a transição constante entre ciclos.


Thais Teotonio

bottom of page